Assumimos uma perspetiva emancipatória da educação, enquanto processo de resistência à tendência para a
separação e disjunção e enquanto processo de construção da unidade na diversidade. Radicando num paradoxo
de base, que é o de afirmar finalidades e pretensões que nos orientam para o futuro, mas onde ao mesmo
tempo se assume a importância central do presente, salientamos, desde já, três finalidades educativas:
desenvolver as qualidades do viver no Agora; descondicionar crenças e padrões do passado; reforçar a
autoestima e a autoridade de quem aprende, reconhecendo, valorizando e desenvolvendo a sua experiência, o
seu poder, a sua sabedoria própria.
A vivência no Agora remete-nos para a criatividade e a intuição, qualidades pelas quais se é um com o
todo. Trata-se de um processo de libertação e purificação, pela compreensão e experiência sensível,
através do qual se desenvolve uma sabedoria e uma ética, pela escuta e silêncio, pela reflexão e atenção,
com entrega, confiança e abertura.
No que respeita ao descondicionamento de crenças e padrões do passado, salientam-se as crenças: 1) de que
o tempo é uma sucessão exterior (pois, ao invés, entendemo-lo como uma construção e uma experiência
interior); 2) de que o futuro não existe ainda, pois, de facto, ele existe já em nós, nomeadamente através
das nossas intenções, e condiciona as nossas ações (pelas consequências, pelo menos as previstas).
Trata-se de integrarmos o passado e o futuro, processo que só no presente é possível.
Para assumir o poder sobre si e a sabedoria própria é preciso desmontar o medo e tomar consciência do que
é para nós viver e do que queremos em nós a cada momento. Trata-se de facilitar o processo de entrar em
contacto consigo próprio, com os outros, com a natureza.
Trata-se de devolver o tempo às crianças e adolescentes – o tempo de serem livres, o tempo livre, não um
tempo onde se aborreçam, mas um tempo preenchido com o seu entusiasmo e a sua vitalidade. Para isso
precisam descondicionar-se da dependência de estímulos externos e descobrir o prazer de serem elas a
colocar as perguntas, de decidirem aquelas que irão aprofundar e de seguir o caminho até às respostas, no
esforço de desfazer e voltar a fazer o que se desfez. Precisam de tempo para estarem uns com os outros,
para se descobrirem através do outro, para aprenderem a lidar com as suas próprias dificuldades e limites.
Precisam de cair para se levantar, de errar ou fazer diferente para aprender a serem eles próprios.
Precisam, ainda, de tempo para estar na natureza, para aprenderem a viver de acordo com o ritmo cósmico.
Precisam aprender a respirar observando em silêncio o seu movimento e percebendo a sua importância.
Precisam aprender a escutar o seu próprio corpo, o coração que bate, as veias que latejam – escutar o
tempo dentro desse templo.
Em contextos educacionais destacamos a necessidade da diversidade e diferenciação de finalidades, de
conteúdos e de estratégias, que tenha em conta diferentes níveis de desenvolvimento, sem se aprisionar em
ideias pré-concebidas desse mesmo desenvolvimento nem se fechar numa visão e ação estritamente
personalista, sendo fundamental criar um tempo coletivo, uma realidade coletiva, um sentido de coletivo e
de unidade.
Ana Paula Caetano